segunda-feira, 31 de maio de 2010

Pedra Pontuda - Castelo ES

Por: DuNada

Mais uma vez coloquei a sorte da galera em jogo, chamei o Porko pra escalar! A lenda capixaba diz que quando eu e Porko estamos juntos é certeza de Barca Furada...

Tudo certo pra Porko, Lú, Xerxes e eu irmos pra Pedra Pontuda no sábado a tarde, quando derrepente começa a chuva... ligamos um pros outros e fim dos planos!

A noite Zé, Amaral, Luca e Sandro apareceram aqui em casa pra pegar uma corda. Conversa vai, conversa vem e Zé me falou q estava indo pra Cachoeiro, cidade vizinha a Castelo, também disse que a previsão era de sol na região sul do estado.

Peguei uns betas com Zé, liguei pro Porko novamente e falei pra gente ir pra Castelo, pois se chovesse não seríamos os únicos a quebrar a cara!

Quarenta minutos depois a gangue estava aqui em casa, mas ninguém muito otimista. Chegando em Viana, a 20 km de Vitória, começou a chover. Começamos a rir uns da cara dos outros e decidimos seguir viajem!

Em Domingos Martins, a 90 km de Vitória e a 50 km de Castelo, começou a chover forte. Dessa vez o papo de desistirmos e voltar pra casa foi sério, mas como agente não tinha nada pra fazer msm... decidimos ir e dar uma de turistas em Castelo.

Nós desistimos da idéia de escalar no domingo, mas ao longo da estrada percebemos asfalto secando. Sorriso no rosto de novo!

Chegamos 23:00 horas na casa de João Magri, que nos emprestou sua varanda e uns colchões pra gente dormir.

Tadinho do Porko, num conseguiu dormir, tem o sono muito leve!

Dormimos na varanda

Colocamos o relógio pra despertar as 5:00 horas, levantamos as 6:00, tomamos café e saímos da casa do João as 7:00... atrasados!

O dia amanheceu com um nevoeiro forte, não dava pra ver nenhuma montanha em volta. Eu era o único que já tinha visto a Pedra Pontuda e sabia mais ou menos a direção que ela estava. Mas parecia q eu estava mais perdido q o restante da galera!

De acordo com os betas do Zé... era só chegar no distrito de São Luíz achar uma pedreira e seguir a estrada, simples assim!

Tocamos uns 10 km em direção a Pedra, ou não... Estavamos nos embrenhando cada vez mais no mato, a estrada ficando cada vez mais apertada e a sensação de Barca Furada cada vez maior. Um detalhe é que agente não parava pra pedir informação, pois homem q é homem não pede informação! Coitada da Lú...

Chegamos numa pedreira e nada da estrada continuar. Outra pedreira e nada de estrada. Outra... e nada! O lugar tem mais pedreiras q casa, fudeu!

Resolvemos ir contra os instintos masculinos e paramos pra perguntar. Os primeiros betas da população local foi furadíssimo, pois eles falaram pra gente descer pra estrada principal e pegar uma entrada antes, pois teríamos que passar perto de uns eucaliptos num morro tão tão distante...

Primeiros betas

Descendo a estrada resolvemos parar pra perguntar de novo. Uma senhora de idade, muito simpática, venho nos atender. Perguntamos: Como que faz pra subir na Pedra Pontuda? Ela nos respondeu: Vocês vão lá hoje? Num tá bão pra subir lá hoje não! É bom chegar lá encima quando o tempo está limpinho, hoje vocês não vão ver nada não. Vocês deixam de ser bobos... ir lá encima hoje não tá bom não, etc.

Fiquei espantado e perguntei se ela já tinha ido lá encima, pois até onde sabiamos o cume só era alcançado escalando.

Ela respondeu: Subi e passei um frio danado lá encima, e vocês vão só com essas blusinhas aí, vocês não vão aguentar não ein! Subi me puxando pelos ferros, primeiro uma mão, depois outra mão, até lá encima...

Ela falou que pra chegar na Pedra Pontuda tinhamos que voltar pela estrada e seguir a mais batida, sempre pela direita.

Agora estávamos com duas informações diferentes... em qual confiar? A primeira informação parecia ser mais "firme" e vão bora pro lugar tão tão distante!

Chegando lá achamos outra pedreira e... nada! A estrada estava molhada, o pasto estava molhado e as pedras estavam molhadas pelo sereno... a sensação de Barca Furada voltou! Cogitamos a idéia de ir escalar na Falésia de Apeninos, onde Naoki, Rebit e Coelho estavam conquistando umas vias por lá.

Conversa vai, conversa vem e decidimos achar a base da via para agente voltar outro dia e escalar.

Pegamos outros betas... e vimos q a informação daquela senhora estava certa, putz... voltamos tudo!

Passamos em frente da casa dela de novo, seguimos sempre a direita na estrada mais batida quando derrepente o carro começa a deslizar. Xerxes, Lú e eu saímos do carro, subimos no caput e nos seguramos num "reglete" nojento pra não cair. Porko embalou, passou o crux e tocou uns 50 metros até o final da via com agente agarrado lá encima, putz q cagaço!

Chegamos na última casa e perguntamos onde que fica São Luiz. Ficamos sabendo que existe os distritos de São Luíz 1, São Luíz 2, São Luíz 3 e que nós tinhamos acabado de chegar em Alto São Luíz.

Desistimos de perguntar sobre o distrito de São Luíz e perguntamos onde era a Pedra Pontuda. O cara apontou dizendo que era logo alí, mas o nevoeiro não deixava agente ver nada.

Pedra Pontuda

Depois de muita conversa... o tempo resolve abrir, mas por apenas uns minutos. Fim de estrada pro nosso carro, era necessário um 4x4 pra continuar. Tudo em nossa volta estava molhado, mas mesmo assim resolvemos pegar os equipamentos e começar o trekking em direção a pedra.

Início do Trekking

O tempo fechou de novo e quanto mais nos aproximávamos da pedra, mais molhada ficava nossas botas e calças, do joelho pra baixo estava tudo enssopado! Mas vão bora, pelo menos pra achar a base da via...

Cortando caminho pelo pasto

Resolvemos subir um pasto pra poder cortar caminho, derrepente avistamos uma toyota subindo a estrada. Foi uma correria danada pra tentar pegar uma carona! Acho que o pessoal da última casa sensibilizou-se com nosso perrengue, resolveram pegar lenha mais cedo e aproveitaram pra nos dar uma carona. Salvou!

Logo após o Sr Argemiro prontificou-se a nos levar até perto da pedra e apontar onde era o início da via de escalada. Continuando o trekking tivemos que passar por debaixo de uma porteira e o Sr Argemiro pegou minha mochila. Ajudei os demais passar a porteira e quando fui pegar minha mochila... o Sr não quis me devolver e disse que era vez dele carregar um pouco!

Sr Argemiro

Putz... a galera começou a me sacanear: "Agora que vc é um 7b tem até gente pra carregar sua mochila". Caramba, fiquei ouvindo isso a trip toda!

Estavamos caminhando com a sensação de dever cumprido, que tinhamos achado a base da via, que já rolou várias fotos maneiras, que só de estar ali já valeu, etc. Colocamos a mão na pedra e a danada estava seca!

Começei a correria, vestindo bouldrier, sapatilha, desenrolando corda, etc. A galera demorou uns minutos pra entender que iria rolar escalada!

De acordo com os betas... essa era uma via em móvel e que erradamente foi grampeada. Peguei apenas quatro friends de tamanhos diferentes e 12 costuras. Mirei no primeiro grampo e costurei. Após não vi mais nada, foi uma enfiada de 60 metros com apenas 2 friends, 1 grampo e 2 árvorezinhas pelo caminho. Eu não vi o segundo grampo e o pessoal falou q eu coloquei um friend a menos de um palmo dele! Putz... to ficando cego!

A primeira parada foi em móvel com os dois friends restantes. Como foi a primeira vez que fiz uma parada em móvel, com apenas dois friends e com a última proteção á uns 20 metros... gritei pra galera: Pode subir, mas não cai não!

Porko e Astolfo

Ao lado tinha uns anéis de corda podre num bico de pedra, onde outros escaladores usaram para fazer o rapel de fuga. Pra mim foi um bom sinal, pois até o momento não estava vendo grampo nenhum e não tinha certeza que a via era por ali.

Pedi pra galera trazer mais friend... mas eles não entenderam! Como a primeira enfiada foi tranquila e a segunda aparentemente também era tranquila, resolvemos tocar pra cima com os pouquíssimos equipamentos que tinhamos em mãos.



A próxima enfiada foi de uns 40 metros e não gastou equipamento móvel, a parada foi em duas árvores.

Final da segunda enfiada

Nos deparamos com uma parede á nossa frente. Não sabíamos pra que lado seguir, se era pela esquerda, pela direita ou reto. Nenhuma das opções parecia tranquila e mais uma vez a sensação de Barca Furada bateu na galera...

Depois de uma análise resolvemos tocar pela direita e com apenas quatro friends os esticões foram inevitáveis. Quando dava pra proteger numa fenda perfeita, o friend do tamanho certo já estava há uns 5 metros pra baixo. Toca toca pra cima e torcendo para que na próxima possibilidade de proteger o friend sirva pra aquela fenda!

Após 25 metros de corda e sem friends... me bateu a sensação de Barca Furada de novo! Olhei pra cima e vi uma árvore relativamente fina. Olhei pra baixo e vi um precipício de uns 400 metros, o nevoeiro estava se transformando em chuva, olhei pra galera e tava todo mundo tenso... fudeu!

Essa terceira enfiada era seguindo a pedra pra cima e mais ou menos na horizontal. Seria uma merda desescalar ou rapelar naquela situação. Resolvi passar o crux de 5° que estava na minha frente e seguir pra árvore.

Após o crux eu levantei a cabeça e vi um grampo! Putz... nunca fiquei tão feliz em ver um grampo!

Essa parada pode ser feita em ponta de pedra, mas como o grampo estava ali sem fazer nada por um bom tempo... resolvi fazer a parada nele mesmo. Agora é vez da galera passar o perrengue!

Mesmo sendo segundo de cordada o perrengue continuava, pois as proteções estavam distantes uma das outras e em caso de queda o pendulo era inevitável!

Essa terceira enfiada compensou toda a via, aposto que nela todos nós passamos por fortes emoções... em outras palavras, passamos por um cagaço mesmo!

A quarta enfiada foi de uns 30 metros e também muito legal, escalamos no mesmo nível da terceira mas com um crux mais forte, deveria ser um 11c. Onde os escaladores saíram com os pés e mãos formigando (cheio de formigas)! Chegamos no cume e foi só alergia... não! foi só alegria!

Ridículos

A parada dessa enfiada foi feita em duas árvores. A via tem apenas três grampos, poderia ser feita toda em móvel e o melhor... rola de descer caminhando!

Sr Argemiro que recentemente fez a trilha de acesso ao cume nos deu um relato muito maneiro, falando da grande vontade de chegar no cume daquela pedra, das tentativas que fez por essa via, usando cordas e sempre ficando no final da segunda enfiada. Parecia um relato dos escaladores de 1950, que tinham poucos recursos e uma grande vontade de alcançar o cume. Se rolasse um videozinho ficaria bem legal!

Enfim... chegando no cume o Porko me ofereceu água. Foi quando eu percebi que ninguém tinha trago mochilas, apenas o Porko com uma mochilinha e um litro e meio dágua pra quatro pessoas!

O casal no cume

Logo percebemos que estávamos descalços, pois os tenis e botas ficaram lá embaixo. Aí ficou a pergunta no ar: Fazer rapel nesses bicos de pedra e ávorezinhas ou descer a trilha no meio do mato descalços?

Como "excelentes" escaladores que somos decimos descer caminhando e assim evitar o rapel. Fomos para o outro lado do cume, começamos a descer um rampão de pedra e os pés já estavam pedindo "arrego".

No final do rampão toquei reto pra dentro do mato e foi o primeiro erro da descida. O certo é ir sempre contornando a pedra pela esquerda de quem desce. No meio do caminho pintou outra dúvida e a sensação de Barca Furada voltou. Putz... será que agente vai ter que subir tudo isso de volta e ainda teremos que rapelar!?

Até que resolvemos continuar rodeando a pedra por uma trilha meio "arriscosa" e pouco pisada. Passamos outro perrengue e achamos a trilha batida, ufa!

Depois de vários escorregões, com os pés e as canelas destruídos chegamos no pasto novamente, onde deixamos nosso material. Aconteceu algo estranho, pois normalmente no final de uma caminhada agente costuma correr pra tirar as botas... dessa vez foi diferente. Agente correu pra colocar as botas, num estavamos aguentando mais!

Trekking de volta pra casa do Sr Argemiro e com a sensação de dever cumprido... mais uma via no currículo ein garotos!

Uns Boulders pra completar o treinamento

Resolvemos nos presentear! Fomos até o centro de Castelo pra comer uma pizza no restaurante que o Porko tinha ouvido falar... mais uma barca e o instinto masculino voltou, pois rodamos meia hora por aquelas ruas de Castelo sem parar para pedir informação, putz!

No final da história fomos pra outro lugar e pedimos duas pizzas gigantes pra nós quatro, mas isso tudo regado de cerveja e suco de maracujá pra moçada!

Traçado da via e o Porko

Agradeço e parabenizo a todos os amigos da barca, principalmente a Lú que mostrou que veio pra ficar e está sendo uma revelação da escalada feminina capixaba!

O Xerxes e o Porko também já foram revelação na escalada feminina capixaba anos atrás... e estão insistindo nesse negócio até hj!

Vlw,
Dunada

Um comentário:

  1. Eu to sem palavra aqui lendo essa história! Eu vi uma foto do Sr. Argemiro que na verdade é o Sr. Adelino, e esse meu primo! haha Nossa família acampa por essas pedras à anos e em todos eles! Fiquei emocionado em ouvir a historia de hospitalidade que contaram e que é e exata verdade do que se passa por essas terra! Galera, precisamos fazer contato pra explorar melhor essa região e fazer mais amigos aventureiros... Deixo meu email aqui,

    guilhermevsalvador@gmail.com
    facebook: https://www.facebook.com/guilhermevsalvador

    Um abraço galera!
    Espero podermos ter a oportunidade de trocar umas experiencias de camping ae!

    Aguardo o retorno de vcs!

    ResponderExcluir